Lula defende soberania do Panamá e diz que comércio internacional é usado como 'instrumento de coerção'
28/08/2025
(Foto: Reprodução) Lula e presidente do Panamá no Planalto.
Ricardo Stuckert/ Presidência da República
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou nesta quinta-feira (28) que o comércio internacional é "usado como instrumento de coerção".
A declaração foi dada no Palácio do Planalto em ocasião à visita de Estado do presidente do Panamá, José Raúl Mulino.
Lula não citou o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, mas a declaração faz referência ao tarifaço imposto pelo país ao Brasil e a outros países do mundo (leia mais abaixo).
"Em um dos momentos mais críticos da história da região, tentativas de restaurar antigas hegemonias colocam em choque a liberdade e autodeterminação dos nossos povos", pontuou Lula.
"Ameaças de ingerências pressionam instituições democráticas e comprometem a construção de um continente integrado, desenvolvido e autônomo. O comércio internacional é utilizado como instrumento de coerção e chantagem", prosseguiu.
O presidente ainda se posicionou sobre o Canal do Panamá — alvo de disputa com os Estados Unidos.
A soberania do Panamá no canal foi questionada por Trump que anunciou o desejo de "retomar o controle" da estrutura que permite a passagem de navios entre os oceanos Atlântico e Pacífico.
"O Brasil apoia integralmente a soberania do Panamá sobre o canal conquistada após décadas de luta", frisou Lula.
"Por isso decidimos nos somar ao tratado relativo à neutralidade permanente e ao funcionamento do Canal do Panamá já subscrito por mais de 40 países", emendou.
Lula aproveitou o encontro para mais uma vez, sem citar Trump, criticar a movimentação de navios militares na região do Caribe com o pretexto de combater o tráfico de drogas.
"O combate ao crime organizado não pode servir de pretexto para ameaças ilegais de uso de força em violação à carta das Nações Unidas", disse Lula.
Molino destacou em seu discurso a importância da soberania no canal e afirmou que não há países autossuficientes, que as nações precisam atuar de forma integrada, em especial na América.
Molino também defendeu ações de preservação das florestas amazônica e do Darién, que cobre parte do Panamá. "Precisamos preservá-los sempre", disse.
Durante a declaração à imprensa, o Panamá anunciou a compra de quatro aeronaves A29 Super Tucano, modelos produzidos pela empresa brasileira Embraer.
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Tratativas com outros países
O líder panamenho é o terceiro presidente recebido por Lula neste mês — os anteriores foram Daniel Noboa (Equador) e Bola Tinubu (Nigéria).
As visitas ao Brasil foram acertas antes do anúncio do tarifaço, porém já em um contexto da guerra comercial adotada pelo presidente dos EUA, Donald Trump.
Os produtos brasileiros estão sobretaxados em 50% desde 6 de agosto. Diante da dificuldade para negociar com Trump, o governo intensificou as tratativas com outros países atrás de novos mercados.
COP 30
Lula tem reforçado nas reuniões com presidentes os convites para COP 30, que será realizada em Belém em novembro. O Brasil tenta articular um mecanismo efetivo para que países mais ricos ajudem a financiar a preservação de florestas.
A pouco mais de dois meses da conferência, delegações estrangeiras se queixam dos valores cobrados para hospedagens em Belém. O governo brasileiro acredita que será possível resolver o problema e garantir uma boa representatividade na COP 30.
Em 2024, a corrente de comércio entre Brasil e Panamá foi de US$ 934,1 milhões, com superávit do Brasil. As exportações brasileiras têm sido, principalmente, de petróleo e produtos manufaturados.